sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A responsabilidade de ser amado


"Os amigos que tens e cuja amizade já puseste a prova, engancha-os a tua alma com ganchos de aço." William Shakespeare




A responsabilidade de ser amado

É bem verdade que amar compete cuidados, doação cautelosa, curiosidade medida, inspiração regrada. Tem de ser jardineiro o amante: há de cuidar para que não seque o amor; ser prudente no rego, sem o encharque da flor; delicado no toque, para que não lhe caiam pétalas, não lhe consumam as aflições da dor; ser prudente no cheiro, sem tirar-lhe o calor. Enfim, há de ser zeloso no amor.
Ainda assim, maior compromisso é ser amado. Cuidar do amor dos outros é dever complicado. Há de ser mais cuidadoso e infindas vezes mais delicado. Há de ser mãe o amado: ter sempre um colo pra cria, nas tantas vezes ao dia quando lhe chega chorando, cansado; banhar sempre que preciso, mesmo se não lhe vem o riso, encoberto na sujeira em que é camuflado; cuidar de alguns machucados quando depois de alguns empurrões, jaz no chão, tombado. Enfim, mais zeloso há de ser quem tem do amor do outro o cuidado.
O que é dos outros te exige mais. És tu o responsável por um coração que no momento bate, mas basta o negares que o pulso logo se desfaz.
Tenho eu um amor desses. Um amor que, a meu modo, amo, mas me chora não podê-lo amar. Ele que me vem sempre em palavras, cheiros, imagens, e nunca se deixa tocar. Talvez nunca nos tenhamos, mas enquanto ele me ame, estarei eu por ele a olhar. Só peço a ele que viva, ame outros se precisar. Haverá ainda o dia em que os caminhos se encurtam, aí então ele me vem buscar.
Peço-te desculpas, amor que tenho, se não venha eu a roçar teus lábios, beijar-te do modo que desejar. Perdão que não acaricie tua face, não seque tuas lágrimas, não te aperte no peito na hora exata em que me clamar. Desculpa-me se te vá sempre em vocábulos, mas são eles verdadeiros, há vezes em que o vento os leva, nas outras não consegue chegar. Não sentir teu cheiro em ti, não ter contigo ao teu lado, não beber do canto por ti cantado é pra mim um triste pesar. Fazer nada junto de ti e assim ficarmos, como outros amantes, um com o outro, fazendo cócegas no ar. Entristecido fico por não sentir a dor que faz teu peito queimar.Enfim, perdão te peço, amor que tenho, se, a meu modo, amo-te e não posso te amar.

O Guardador de Rebanhos - 08/10/07

4 comentários:

Unknown disse...

Enrolações à parte, estou eu aqui, e também não sei o porquê de não ter comentado antes, talvez por não saber o que escrever diante de tanta maravilha. Ainda que tu digas que esteja engatinhando com as palavras, falo, sem titubear, que discordo, e complemento que és gigante com elas.
Sou testemunha do teu esforço para que tudo saia perfeito, e isso realmente dá certo. Mortal em corpo e imortal com as palavras. Tu pode estar achando que seja trivial o que eu estou falando, mas isso não é da boca pra fora, é o que eu expresso com toda minha sinceridade.
Tu merece tudo isso, valeu.

Unknown disse...

Muito bem comentado Luan...nos estarrecemos diante de tanta belaza e ficamos sem as palavras certas para expressar o que estamos sentindo!
Prabéns!

Anônimo disse...

Parabéns pelo post. Muito bom mesmo!
Abraços

Priscila Nogueira de Jesus "Wulf" disse...

Quando tu escreves,o mundo fica suspenso em tuas palavras.
Um buque de violetas.
Meu suave veneno.
Sobre as faces pálidas - não por assim serem naturalment, mas talvez por dor - de uma menina vegetal, nos braços de teus vocabulos nobre, eu entendo porque lhe tenho amor.

Obrigada pelo texto.