terça-feira, 16 de outubro de 2007

À minha eterna Polegarzinha

" [...] A andorinha voou até lá abaixo com a Polegarzinha e poisou-a numa pétala. Então, a Polegarzinha teve uma grande surpresa. Ali, no centro da flor, estava um principezinho, tão belo e delicado que parecia feito de vidro. Tinha na cabeça a coroa de ouro mais bonita que pode imaginar-se e nos ombros um par de asas coloridas e brilhantes, e não era maior do que a própria Polegarzinha. Era o espírito que guardava a flor. Em cada flor havia uma criaturinha igual, mas ele era o rei de todas.
— Que bonito que ele é! — sussurrou a Polegarzinha à andorinha.
O principezinho ao princípio ficou muito assustado com a ave, que lhe parecia gigantesca, mas quando viu a Polegarzinha ficou cheio de alegria. Achou que ela era a mais bela de todas as criaturas que jamais tinha visto, mesmo entre as fadas das flores. Tirou a coroa de ouro da sua cabeça e colocou-a na dela e perguntou-lhe como se chamava e se queria ser sua mulher e rainha de todas as flores. [...]"

A Polegarzinha, um conto de Hans Christian Andersen.






Ainda te amo

E pensar que tudo era tratado de modo tão fácil, trivial. Nos acostumávamos com o automático, como se não tivéssemos escolha, e não passávamos de fantoches, obedecendo o roteiro e o mecanismo propostos.E tudo o que nos passava era alheio, sem mérito de atenção. E assim nos dizíamos sábios.
Eis que ela me vem aos poucos, e mostra-me com uma permissão que não lhe foi dada, que o mais importante é tornar-se inexperiente a cada dia. Diz-me que toda a minha sagacidade é, na verdade, o que mais consome minha sabedoria e que dessa sabedoria posso desfazer-me no primeiro enlace das mãos. Aconselha que devo ter inúmeras infâncias e querê-las cada vez mais. E me olha, me falando com esse olhar... E me ri, contando-me segredos nada convencionais... E me chama por um nome que nunca tive, mas que no fundo sempre quis ser chamado.
E do primeiro encontro o mundo se lembra. Está lá, eternizado na música que posteriormente será rabiscada nas cartas, nas bocas, nos olhos dos dois: “Nos encontramos à noite, passeamos por aí. E no lugar escondido, outro beijo lhe pedi”. E na solidão que vivíamos a dois, a lua era mesmo prateada, as estrelas desciam ao chão e fora a única vez em que tivemos a certeza de que não sonhávamos.
E desde então tudo passa a ser novo. É desconhecido, motivo de mistério. E ela me ensina as primeiras palavras, me dá a mão nos primeiros passos, me levanta das quedas e me aperta com força. E é tudo a primeira vez. Me perco no cálculo das primeiras vezes em que a beijei, das primeiras palavras que lhe disse, dos primeiros segredos que revelei e dos primeiros medos que escondi.
E eu já faço poesia, desenhos infantis, juras eternas com a absoluta certeza de que irei cumpri-las. E eu já passo horas comigo, deitado em qualquer lugar com os olhos fitando qualquer coisa, pois não são mais eles que vêem. E já me chamo de bobo, e só por isso penso ser sábio demais. E quero dizer infinitas vezes que ela é a mais amada, a mais pensada, e que as nossas crianças terão o nome que ela quiser: se menina, Antônia, e o menino Guilherme, desde que sejam nossos. E, por incrível que pareça, todas as músicas foram escritas pra nós, todos os filmes nos lembram histórias e, assim, juntos, duvidamos de amor maior.
E as ânsias agora são prazeres. Deixamos as unhas de lado e agarramos qualquer pelúcia. Esguichamos qualquer fragrância, desde que ela esteja cada vez mais perto.
E de mãos dadas entendemos a relatividade e, como num pacto digno de enamorados, quebramos juntos nossos relógios, porque eles já não acompanham o nosso tempo.
O silêncio já não é mais entediante. E as madrugadas não causam mais sono. E durmo só para sonhar com ela, com absoluta convicção na previsão dos sonhos. E pouco depois já desperto, com medo de perder um mínimo de tempo.
E a fala que planejei antes de dormir, os versos que decorei e os olhares que programei, tudo vai embora à hora em que ela me vem. E eu não sei o que é feito de mim quando ela me olha. Se ela me toca, desfaleço. E quando me abraça, enfraqueço.
E eu queria mesmo que ela não fosse como as outras. Desejei que ela chegasse primeiro. E quis ser eu o primeiro amor dela.
E agora está tudo feito. Não há meios de regressar.
Por mais que Vinícius seja esquecido e que seus sonetos deixem de inspirar os casais, ainda assim te amo.
Pode o romantismo tornar-se careta e acharem ser masoquismo essa coisa de amor, mesmo com isso, continuo te amando.
Posso ficar horas chorando e me perder em soluços. Te amo.
E se a nossa música deixar de tocar, e se só o sono não me bastar para dormir, mesmo assim vou te amar.
Ainda que me peça para parar e que eu me esforce, nem que seja para tentar. O tempo esgotou-se, agora está feito, não há meios de regressar.
Era essa a história que desejava escrever, e desde as primeiras linhas a fiz assim, eterna.
Passem-se horas, dias, meses, anos, passe a vida. Ainda te amo.
Perdão, mas assim são os amores, inevitáveis.

O Guardador de Rebanhos – 14/10/07

13 comentários:

Anônimo disse...

Jota,os amores são assim mesmo,inevitáveis,mas tê-los dentro da gente nos faz melhores,e falar de um amor como tu tens a coragem de falar,e explicar esse amor com todo o cuidado,escolhendo cada palavra para que tudo seja dito,não fará com que tu somente se torne infinitamente melhor,nós também quando partilhamos contigo esse dom sentimos aflorar nossa sensibilidade e por isso todos nos tornamos melhores.
Parabéns por contar o amor de uma forma tão profunda e bela!
Bjs!

Unknown disse...

Claro, as épocas me impedem de te chamar de parnasiano, mas tu és ourives com as palavras. Me faltam argumentos e o fôlego me é tomado com as surpresas constantes enquanto leio teus textos. Tuas produções são perfeitas, maravilhosas e criativas, talvez isso seja um comentário infantil, e que tu já esteja cheio de ouvir esse tipo de elogios da minha parte, embora é isso que pode soar da minha boca, numa avaliação dos teus textos.
Finalizando, só posso pedir desculpas à Machado de Assis e cia, pois escrever com a alma é só com o Jota.
Valeu, amigo.

Diego M. Neves disse...

Ah, sempre inevitáveis, os amores...
Ora para nos fazer sorrir, ora para nos fazer explodir de felicidade.
Feliz é o homem que pode (e sabe) dizer que ama de verdade.
Assim somos nós, os amantes... Insistentes, fortes, determinados,... mas, acima de tudo, imprevisíveis e "estranhos". Talvez normais demais para nós mesmos, mas geralmente incompreendidos por quem não guarda em si tal sentimento tão raro.
Digo a ti agora, meu grande amigo, que a cada texto teu, minha admiração pelo teu trabalho é aumentada. Espero sempre poder ler palavras como as que li agora nesse "post".
Feliz é a pessoa que te inspirou dessa forma...

Um grande abraço!

Diego M. Neves

Anônimo disse...

Cara, maravilhoso!
Tuas palavras contagiam...Realmente, o que dizem sobre teus textos é verdade.
Tudo em doze exata.
Passa um filme na mente!
Continue postando, vou estar sempre por aqui ;)
Beijo e Obrigada.

Anônimo disse...

ah jota, eu definitivamente n�o tenho esse dom de voc�s :~ hsauihsaui ent�o n�o vou nem tentar fazer um coment�rio bem 'embasado' digamos assim que � desastre certo! ;S ent�o � com tooda sinceridade.. QUE COISA MAIS LINDA! :~~~~} s�rio, tu j� deve ter ouvido isso no m�nimo 400 vezes maas meu deus, os teus textos t�o a cada dia mais perfeitos :} paarab�ns!
mt mt sucesso pra ti o/ ;*****

Anônimo disse...

N�o tenho nem palavras!
Tu sabe bem o que eu acho das coisas que tu escreve, s�o sempre maravilhosas.
Acho lindo a maneira como tu fala de amor.
beijo

Unknown disse...

Meu Deus do Céu Jota! Eu já sabia que tu escrevia bem mas como nunca tinha visitado aki antes, eu nao tinha conhecimento desses textos postados aki! Sério Jota, to pasmada! são lindos, maravilhosos, perfeitos! tuas palavras contagiam e fazem refletir mto!! Parabéns Jota! um grande beijo e mto sucesso pra ti!

Anônimo disse...

É tudo verdade. Já passei por um amor eterno parecido com o seu. Mais ele está em repouso. Mas nunca conseguiria expor esse sentimento com a beleza das suas palavras. Parabéns. O amor realmente é eterno. Tudo o que é bom é eterno.
Um abraço.

Priscila Nogueira de Jesus "Wulf" disse...

Eu tento me acalmar.É uma viagem solitária...
Escute meus olhos.
Escute meus lábios.
"Perdão, mas assim são os amores, inevitáveis."

Lígia Rosso disse...

Oi Jota!!!

...emocionante teu texto. Já sofri muito por amor, já amei demais, já me entreguei de corpo e alma para o amor e te digo: apesar dos pesares, vale a pena amar por inteiro, amar. Acredito no amor do qual Shakespeare falava. Talvez esteja fora de moda...mas, e daí? Loucos são aqueles que não assumem o que sentem. Grande abraço e muita paz para teu coração!!! Com carinho, Lígia Rosso

Unknown disse...

jooota.que coisa mais linda esse texto, não só esse como todos os outros.noossa já sabia do teu dom pra escrever mas lendo todos os teus textos aki no blog me impressionei.tu escreve demaaais!me fez pensa em muita coisa.parabééns! e MUUUITO, mas muuito SUCESSO MESMO pra tih jota, q isso eu tnho certeza q tuh vai ter xD .beeeijão :*

Bibi Velasques

Jéssica disse...

Inevitáveis, fortes, o seu amor me remete a um mundo tão mágico, que fica difícil trazer de volta meus pensamentos!
Lindo!!!
Assim como todos!
Bjinhusss

Anônimo disse...

Procurando uma imagem do filme infantil, encontro a foto da ticha. se não bastasse essa surpresa, encontro o texto mais bonito que já li a respeito do amor.
parabéns.